O invento é mostrado ao lado de uma agulha: a espessura do dispositivo é 20 vezes menor que a de um fio de cabelo |
Os criadores da microluz acreditam que ela possa ser usada em experimentos científicos com pequenas cobaias ou em procedimentos médicos delicados. A invenção já foi utilizada numa experiência que testou os efeitos da recompensa em ratos geneticamente modificados, descrita na revista Science.
A invenção funciona sem fios e pode ser inserida em qualquer profundidade do cérebro. Isso significa alcançar, sem prejudicar, áreas da mente que controlam e reagem a diferentes emoções ou ações. A versatilidade da ferramenta pode resultar em uma variedade de experimentos ou procedimentos sobre o cérebro ainda vivo. Algumas opções são a estimulação do efeito de drogas ou de níveis de oxigênio ou do fluxo sanguíneo nos neurônios unicamente por meio da iluminação.
O equipamento é feito de materiais semelhantes aos usados em LEDs comuns, mas em um design praticamente celular, que pode ser inserido numa estrutura de polímeros flexíveis. O problema de energia encontrado em dispositivos semelhantes também foi resolvido. “Ele é alimentado por ondas de rádio em um módulo de força miniatura que fica preso ao lado de fora da cabeça do animal. O tempo de operação pode, então, ser infinito. Eles estão sempre ligados, desde que a fonte de ondas de rádio também esteja”, explica John Rogers, físico da Universidade de Illinois e um dos criadores do aparelho.
A inserção no cérebro de ratos vivos permitiu aos pesquisadores estimular a área de recompensa dos animais |
Também existe a possibilidade do uso da mesma tecnologia para a fabricação de dispositivos com diversas luzes, cada uma com funcionamento separado e com cores diferentes. Os futuros usos da invenção ainda não foram determinados, mas os responsáveis pela pesquisa asseguram que as possíveis aplicações clínicas podem contribuir no tratamento e na pesquisa de diversas doenças psiquiátricas ou neurológicas. “A vantagem de o dispositivo ser bem pequeno é que ele pode proteger as células do cérebro, não causando nenhum dano a elas. Ele também tem mais compatibilidade com o tecido do órgão. Então, é possível estudar a biologia de forma mais eficiente”, enumera Michael Bruchas, neurocientista da Washington University, em St. Louis, um dos responsáveis pelo projeto.
Controle mental A função do minúsculo diodo, reforçam os cientistas, pode ser muito maior que apenas iluminar mentes de cobaias ou pacientes. Para comprovar a eficiência do aparelho, o grupo inseriu o dispositivo no cérebro de pequenos ratos geneticamente modificados. “Os dispositivos não podem penetrar o cérebro sozinhos, porque não são flexíveis. Então, o montamos numa estrutura rígida que é biossolúvel”, descreve Jordan McCall, estudante do Programa de Neurociência da Washington University. Depois que a armação inseriu o diodo entre os neurônios, ela foi dissolvida pelos fluidos cerebrais, deixando apenas o LED dentro do cérebro.
O procedimento foi feito em animais criados de uma linhagem que deixou os neurônios sensíveis à luz. A modificação genética não causou mudanças no comportamento natural dos ratos, apenas tornou as células cerebrais responsivas. Depois, os bichos foram submetidos a uma terapia de genes, em que vírus levaram um tipo de proteína específica para os neurônios. O processo fez com que, toda vez que fossem iluminadas, as células liberassem dopamina, a substância que estimula o sistema de recompensa.
Como o aparelho não tem fios, os ratinhos conseguiram se mover sem dificuldades mesmo com os aparelhos presos às cabeças. A liberdade era necessária para o experimento, que submeteu os animais a um labirinto. Depois de encontrar o caminho, as cobaias podiam tocar com os narizes o botão que ligava o LED instalado em seus cérebros. A luz fazia os bichos sentirem prazer, numa reação semelhante ao vício da cocaína. Logo, os ratos aprendiam a percorrer o labirinto rapidamente para receber a recompensa.
A microluz mostrou ser capaz de controlar circuitos em regiões ligadas a comportamentos específicos de animais. “Controlamos um aspecto muito pequeno do cérebro. Na verdade, eles estão controlando por conta própria”, explica Michael Bruchas. O dispositivo será usado agora para o estudo da depressão e da ansiedade. Mas, por enquanto, o grupo não deve testar um efeito semelhante em cérebros humanos. “Até que a terapia de genes esteja mais avançada, não temos como tornar as células cerebrais (de humanos) mais sensíveis”, ressalta.
A vantagem de o dispositivo ser bem pequeno é que ele pode proteger as células do cérebro. Ele também tem mais compatibilidade com o tecido do órgão. Então, é possível estudar a biologia de forma mais eficiente
>> Michael Bruchas, neurocientista da Washington University
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